segunda-feira, 19 de março de 2007

Os gays na telenovelas

A trágica trajetória dos gays nas novelas brasileiras
Por Jaime Yamane
As novelas brasileiras são um dos produtos de grande aceitação internacional, juntamente com o futebol e a música. Elas representam um grande negócio: o Brasil exporta suas produções para 128 países, incluindo os Estados Unidos, Portugal, China e países latino-americanos.
A superioridade de nossas novelas é inquestionável. As produções, principalmente da rede Globo, são apreciadas pela sua excelente qualidade e pelas tramas complexas e bem desenvolvidas que abordam diferentes temas, dependendo da moda atual, ou mesmo criando moda. Porém os gays sempre estiveram presentes nos roteiros e marcaram épocas pela sua irreverência e polêmica.
Os personagens gays possuem registros nas telas brasileiras desde 1970. A primeira novela que abordou o ângulo gay, foi provavelmente, "O machão" (1972). No romance Ziebinsky, representava a trava Stanislava que vivia sonhado com seu príncipe encantado, um trapezista de circo, durante viagens alucinóginas de drogas.
As histórias eram um tanto cruéis com os personagens gays, atribuindo-lhes características bichalizadas-cômicas e/ou qualidades más. Muitos terminaram suas participações com suicídios, assassinatos, ou simplemente explodiram. Mas, felizmente, alguns personagens conseguiram ultrapassar a barreira do estereótipo e atacaram o preconceito.
O autor Gilberto Braga sempre abordou com seriedade o assunto e procurou inserir os gays em seus roteiros. Durante a época militar ele emocionou a audiência brasileira na cena em que Inácio (Denis Carvalho) se assume para sua mãe (Fernanda Montenegro) em "Brilhante", de 1981. A relação entre Inácio e seu namorado teve de ser camuflada para passar pela caneta do rígido departamento de censura dos militares, mas no fim eles terminam livres e felizes em Paris.
A censura não foi o único problema encontrado pelos autores na inclusão de personagens gays nas novelas. Espectadores raivosos e moralistas sempre criticam os homossexuais na TV. Lauro Cézar Muniz, por exemplo, foi forçado, pelas críticas do público, a cortar da novela "Um sonho a mais", de 1985, as três travestis hilárias, Anabela (Ney Latorraca), Florisbela (Marcos Nanini) e Olga del Volgo (Patricio Bisso). As três representam, ainda hoje, uns dos personagens mais deliciosos e engraçados que apareceram na história das novelas brasileiras.
O sucesso "A próxima vítima", de 1995, envolveu a sociedade com o famoso caso entre Sandrinho (André Gonçalves) e Jefferson (Lui Mendes) . Silvio de Abreu quebrou o preconceito mostrando o relacionamento entre os dois, que descobrem o amor e se envolvem romanticamente. No final houve, inclusive, um espécie de casamento gay .
Apesar da reação positiva do público, alguns mais conservadores reagiram contra o casal. Os atores eram constantemente assediados negativamente nas ruas do Rio de Janeiro e São Paulo.
As lésbicas aparecem de vez em nunca na TV brasileira. O primeiro casal parece ter sido Glorinha (Isabel Ribeiro) que fica entediada com seu casamento e foge com Roberta (Regina Viana), em "Festa Selvagem". A cena final das duas foi um quase beijo. Bem na hora que seus lábios se tocariam os bondinhos do pão de açucar cobriram a cena.
Em 1988, a novela de Gilberto Braga "Vale Tudo" trazia outro casal, Laís e Cecília. Elas eram donas de um resort fashion em Búzios, mas depois que Cecília morreu em um acidente, Laís teve de lutar na justiça para ter seus direitos como companheira reconhecidos. No fim tudo acaba bem, ela ganha o direito de ser dona do negócio e até encontra uma nova namorada, Marília (Bia Seidl).
Somente dez anos depois outro casal de lésbicas retorna nas novelas. As polêmicas Leila (Silvia Pfeifer) e Rafela (Christiana Torloni) em Torre de Babel. Elas foram as culpadas pela crítica pelos baixos índices de audiência do programa e foram condenadas a explodir junto com o shopping, centro da história.

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